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Entre almacéns e afajores, parrillas e tangos: o que aprendi na minha última visita à Buenos Aires foi que há muito o que se esbaldar, mas muito o que caminhar.
TrĂŞs dias, 45 kilometros, cerca de 1800 calorias queimadas: a cidade capital dos nossos hermanos Ă© maior do que parece ser no mapa turĂstico, e caminhada foi o mĂ©todo de transporte que funcionou melhor. Se vocĂŞ gosta de andar, eu recomendo esse turi-sport: la bueña caminata nos Aires.
Dia 1 – Palermo: Soho, Hollywood y los jardĂns
Para hotéis-boutique, bons restaurantes e bares para tomar aquela saidera, o melhor bairro para sua acomodação é o Palermo. Então nosso 1º dia começa aqui, na Bonpland entre as calles Paraguay e Guatemala.
Depois de um café forte e um desayuno caprichado, coloque um tênis e faça um alongamento rápido: começaremos essa viagem com um passeio no parque. O Bosques de Palermo, oficialmente chamado de Parque Tres de Febrero, é mais do que uma fuga do caos da cidade – na verdade, em várias áreas dos bosques há ruas em que circulam carros. Isso porquê a região é composta de alguns parques, não só um: o Rosedal, o Jardim Japonês, o Jardim Botânico, e o extinto zoológico (fechado para o público desde 2016 devido ao descaso com os animais. Em 2015 morreram uma girafa, dois leões marinhos e uma espécie de lebre-patagônica. Um taxista me disse que reclamações do mal cheiro do local, que atrapalhava o mercado imobiliário dos prédios ao redor, também influiu na decisão de encerrar as atividades do zoo).
O Rosedal é a razão principal para o turista visitar os Bosques. Gratuitamente os visitantes podem ver os diversos canteiros com diferentes cores de rosas. É legal, mas não espere uma imagem igual às dos campos de tulipa na Holanda.
Já o Jardim JaponĂŞs cobra uma pequena taxa de entrada (120 pesos), mas vale ver se estiver na regiĂŁo. O local foi construĂdo em 1967 quando visitou a Argentina o entĂŁo prĂncipe Akhito, hoje imperador do JapĂŁo.
Pegue a calle Lafinur para sentir os ares residenciais da regiĂŁo e passar em frente ao Museo Evita – o casarĂŁo do inĂcio do sĂ©culo XX conta com vestidos, sapatos e fotos da primeira-dama, e um pouco de sua histĂłria de vida. Mais interessante que o prĂłprio museu talvez seja o restaurante, super bem conceituado e com mesinhas ao ar livre. Boa opção de almoço para os que rodearam bastante os jardins.
Continuando na Lafinur, passe pelo belĂssimo Jardim Botânico e caminhe mais 20 minutos para chegar ao imperdĂvel Distrito Arcos, uma novidade para os que nĂŁo visitam Buenos Aires desde 2014.
Enquanto a cidade parece ter parado no tempo, o Distrito Arcos é uma renovação: antigos galpões ferroviários foram revitalizados e transformados em um shopping outlet premium, ao ar livre. Quiosques de comidinhas gourmet enfeitam o espaço livre, enquanto marcas das melhores modas locais os rodeiam com preços de ponta de estoque.
UFA! Se você seguiu meu roteirinho na caminhada mesmo, você já andou cerca de 6km. Talvez seja a hora de voltar para o hotel e descansar um pouco antes do jantar.
Melhor jantar em Palermo é no Lo de Jesus, que além da tradicional parrilla argentina com sabor único, também oferece uma carta de vinhos maravilhosa e com preço justo: o sommelier nos avisa que o preço no restaurante é o mesmo da bodega ao lado. Isso é, você pode aproveitar seu Malbec sem se preocupar em ser (muito) explorado financeiramente. Jantar para dois — com um dos mais caros vinhos da carta — deu 2.350 pesos (cerca de 550 reais).
Saindo de lá, vale tomar uma saidera na Plaza Serrano (tomei um café delicioso no SANS, mas de acordo com o Google, a padaria fechou) ou na Plaza Armênia (recomendo uma margarita no Mezcal). Ambas praças viram centrinhos noturnos do Palermo Soho durante fins-de-semana.
Se sua acomodação nĂŁo for em Palermo, chegue antes do jantar para caminhar pelas ruas do Soho – tem várias lojinhas de decoração super fofas por ali, e centenas de opções para drinks e comidinhas. Comemos um choripán (pĂŁo com liguiça, tĂpico dos ambulantes argentinos) delicioso no Chori, uma sanduicheria super descolada que tambĂ©m vende chopp local e coquetĂ©is deliciosos. Atenção: apenas dinheiro vivo, e poucas mesinhas. Mas vale a pena para um snack!
Na parte do Palermo Hollywood, o gostoso é ir caminhar na calle Fitz Roy e almoçar durante dias da semana e se sentir como local nos restaurantes Miranda ou Brandon, que oferecem menu executivo, ou comer empanadas e provoletas no (mais sujinho, mas ótimo serviço) Bakano.
Dia 2 – Recoleta y San Telmo, + El Ateneo y Galerias Pacifico
Talvez melhor do que ficar hospedado em Palermo seja escolher um dos hotéis da Recoleta. Além de chiquérrimos, a região é mais central. E, como disse, transporte em Buenos Aires não é lá dos mais fáceis de lidar: usamos bastante o Uber, mas cada pedido dizia que ia demorar 10 minutos, quando na realidade o carro chegava após uns 20. Os taxistas lá ainda protestam contra o novo serviço. Táxi é o dobro do preço, com carros mais acabados, mas acaba sendo a opção mais “rápida”. Entre aspas, pois o trânsito em BA é bem devagar.
Enfim, uma caminhada de Palermo até a Recoleta leva 1h. Bicicleta seria a melhor alternativa, mas te digo já que Buenos Aires não é das mais bike friendly cities. Ciclovias são quase inexistentes, e os motoristas parecem odiar os que escolhem pedalar no trânsito.
De qualquer maneira, prepare-se para andar: Recoleta é um bairro consideravelmente grande, e eu já aproveitaria para conhecer o bairro seguinte, San Telmo.
Em Recoleta, comece pelo Cemitério da Recoleta e visite o tão famoso túmulo da Evita (para achá-lo, basta seguir a multidão ou começar a perguntar para alguém – a pessoa lê sua mente e logo aponta a direção). Mais legal do que o cemitério é seus arredores: a Plaza Francia, que tem um mercadinho de artesanatos de fim-de-semana, e o Centro Cultural Recoleta, que sempre tem eventos e mostras criativas. Super recomendo também entrar no shopping Buenos Aires Design, que além de lojas de decoração, também oferece uma praça de alimentação com opções ao ar livre ou fechados.
Dica bônus: deu vontade de extrapolar e fingir de rica? Vá no Gioia Terrace, que fica no Palacio Duhau Park Hyatt – o restaurante fica situado no jardim do hotel cinco estrelas, que é um verdadeiro palácio no meio da Recoleta.
Seguimos para San Telmo, um bairro parecido com o centro histórico de São Paulo. Durante o dia, o movimento de executivos e trabalhadores governamentais é grande – a Casa Rosada também está logo ali – e, durante a noite, o bairro fica mais deserto. Na esquina das calles Defensa e Chile está a famosa estátua da Mafalda, sentadinha no banco que convida turistas a sentarem para uma foto com a famosa personagem argentina. Mas o bairro todo está enfeitado com figuras de quadrinhos, uma rota conhecida como Paseo de La Historieta. E, claro, tudo isso é recomendável fazer num domingo, para visitar a famosa e gigante Feria de San Telmo, que acontece das 10 às 17:00.
Quem tiver fĂ´lego ainda pode visitar a famosa e majestosa livraria El Ateneo e o tambĂ©m histĂłrico shopping Galerias PacĂfico.
Ă€ noite, reserve com antecedĂŞncia uma mesa no El Viejo AlmacĂ©n, o tango mais tradicional da cidade. Hoje há inĂşmeras opções diferentes e maiores, mas o casarĂŁo antigo na esquina da Av Independencia com a Paseo ColĂłn Ă© o clássico, e o show continua maravilhoso. Dá para combinar com um jantar no La Brigada, um restaurante parrilla com decoração tĂpica argentina (camisas de futebol, fotos de celebridades, essas coisas); ou com um drink e comidinhas de bar no Bar El Federal, o que eu mais gostei na regiĂŁo.
Dia 3 – El Caminito, La Bombonera, Puerto Madera
Tem dois motivos para vocĂŞ reservar um dia sĂł para El Caminito: 1) É longe. 2) É uma delĂcia passar várias horas curtindo as lojinhas super turĂsticas, os bares com mesinhas na calçada e as apresentações de tango por gorjetas no chapĂ©u. Ah, se vocĂŞ nĂŁo conseguiu comer o choripan no Chori, que dei a dica em Palermo, aqui no El Caminito tem várias opções. Aqui vocĂŞ encontra tudo o que vocĂŞ queria ver na Argentina: souvenires da Mafalda, camisetas do Messi e do Maradona, choripan, parrilla, empanadas, tango, Quilmes. E, claro, as famosas casinhas coloridas que fizeram El Caminito o maior ponto turĂstico de Buenos Aires.
Minha recomendação Ă© nĂŁo deixar de entrar no El Gran Paraiso – super simples, vocĂŞ nĂŁo imagina ao ver a entrada pequenina que ali dentro tem um espaço grande ao ar livre, com decoração divertida, e rola um churrasquinho enquanto todos se esbaldam nas Quilmes. ImperdĂvel!
Os mais fanáticos por futebol podem aproveitar para conhecer o Museo de La Pasion Boquense, o museu que fica no famoso estádio do Boca Juniors, La Bombonera.
De lá vale já ir direto para um jantar no Puerto Madero – eu nĂŁo sei porque lembrava da área como algo glamoroso, mas fiquei meio decepcionada em 2017, dez anos depois da minha primeira visita. É uma área bonita residencial, mas o porto Ă© gigante e cansativo de andar procurando algo para ver ou fazer. A melhor opção de restaurante – e talvez (muito provavelmente) eu esteja errada — Ă© o Siga La Vaca. É uma churrascaria com várias unidades pela cidade, mas depois que camelei pelo Puerto, achei que era a mais legal mesmo.
Dios mio! Pensei que não tivesse muito a falar de Buenos Aires, mas quase que esse post ficou cansativo. Cansada eu realmente fiquei depois de caminhar pela capital argentina – no fim dos três dias, meu FitBit somou mesmo 45km. E olha que também peguei muito Uber, taxis, e pedalei. Pelo o menos queimei todas as calorias consumidas em alfajores, carnes, empanadas, choripans, Quilmes e, claro, Malbecs.
Salud!
P.S.: Fiquei no maravilhoso hotel Palo Santo, em Palermo Hollywood. Mais que um quarto, o apartamento contava com sala de estar e jantar, cama king size com colchão maravilhoso, varandinha e máquina de café (e bikes) complimentary. Super recomendo!
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